الثلاثاء، 29 أغسطس 2023

Download PDF | (Coleção História) Marie-Paule Caire-Jabinet - Introdução à Historiografia-EDUSC (2003).

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169 Pages



PREFÄCIO A EDICÄO BRASILEIRA

Escrevi este livro para os estudantes de histöria e ciencias sociais, bem como para o püblico interessado em assuntos relativos a historiografia. Inicialmente idealizado como parte de uma colecäo universitäria, ele almeja simplesmente atualizar as grandes linhas de um assunto muito vasto e que, nesses ültimos anos, tem recebido cada vez mais atencäo.

















Fiquei muito emocionada ao tomar conhecimento de que o livro, originalmente escrito em frances, iria ser traduzido e publicado no Brasil, aos cuidados do editor Luiz Eugenio Vescio, levando-se em consideragäo tantos lacos de uniäo entre Brasil e Franga e que, para uma historiadora, o Brasil € tambem o pais onde trabalharam Fernand Braudel e Claude Levi-Strauss.

















Este estudo, consagrado ä escritura da histöria na Franga a partir da Idade Media, procura dar respostas as expectativas dos leitores interessados nas realidades francesas, mas que tambemr gostam de refletir sobre a progressiva transformagäo da histöria ate conquistar o status de disciplina autönoma.
























Refletir sobre a escritura da histöria, sobre a histöria da histöria, significa perguntar-se sobre as origens de nossa civilizagäo ocidental: & em fungäo da situagäo presente que cada gera-sao olha de maneira diferente 0 passado e suas origens; nisto consiste o dizer de Benedetto Crocce, segundo quem “toda histöria € contemporänea”,


















Contemplar o passado, mas tambem olhar para o presente: normalmente tendemos a reduzir a histöria a busca das origens ou ainda a imaginar o que se chama atualmente na Franga “histöria imediata”, Isso seria o mesmo que esquecer Tucidides e a extensa linhagem de seus herdeiros que tem colocado a servigo da compreensäo de sua Epoca os elementos de explicagäo e anälise disponibilizados pelo metodo histörico.




















Histöria do passado ou do presente, a histöria desempenha um papel importante na construgäo das identidades coletivas.e das sociedades humanas; ja Mathieu Paris, no seculo 13, constata: “um homem sem cultura, que ignora o passado, € uma besta ambulante”, Cinco seculos mais tarde, um cronista mongol obserya: “Se o homem comum desconhece suas origens comporta-se como um macaco doido. Aquele que ignora a grandeza e honestidade de sua familia de origem € como um dragäo gigante, Aquele que ignora as circunstäncias e os feitos de seus nobres pais e avös &como um homem que, tendo legado a dor aos seus filhos, os abandona ao mundo”. Inümeras outras citacöes como essas insistem sobre o lugar da histöria na sociedade.



















Contudo, o historiador näo € um simples servo da memöria. Testemunha atenta e curiosa, ele se rende äs exigencias de um trabalho rigoroso cujas regras tm sido objeto de progressiva elaboragäo no curso dos seculos, e que fundaram a histöria como disciplina autönoma. A histöria ocidental nasce portanto nos entrecruzamentos da erudigäo e da reflexäo, da anälise e da sintese. Este livro tenta descrever as principais etapas da construgäo da ciencia histörica. Embora ele parta da situagäo francesa, suas linhas gerais säo resolvidas de maneira similar aos outros paises europeus, A escola. dos Annales (nascida em 1929) difundiu os principios da pesquisa francesa para muito alem das fronteiras nacionais e mesmo europ&ias, o que fica ilustrado, por exemplo, pelo percurso de Fernand Braudel,.




























De disciplina erudita, nascida nas sombras dos claustros medievais, a histöria atualmente abre-se aos horizontes mais vastos da interdisciplinaridade. A histöria na Frangä se beneficiou logo de inicio de dois elementos: uma rede de mosteiros, principalmente beneditinos, e um poder regio que procura afırmar sua legitimidade fundamentado-a na escritura de uma histöria nacional. Desde o seculo 12 langam-se as regras da erudi-


.gäo, mas a historia sö se torna uma paixäo nacional nos seculos


14 e 15, quando ela encontra um püblico laico. Jä na Idade Media punha-se a questäo do sentido da histöria e de sua utilidade, a questäo tambem da narragäo e do estilo na escritura da histöria. No entanto, durante seculos, ate o 17, a histöria foi preponderantemente considerada como uma disciplina menor ao lado da teologia, e o sentido da histöria permaneceu no ämbito dos designios da Providencia.


Os seculos 16 e 19 säo os grandes seculos da escritura da histöria e da vontade de encontrar um equilibrio entre erudigäo rigorosa cujas regras säo langadas, e a preocupagäo de se construir um pensamento histörico. Nessas duas &pocas — e sem düvida mais ainda no seculo 16 — a Franga faz uma contribuigäo original inspirada no exemplo alemäo, e os historiadores do final do seculo (a escola metödica) propöem um metodo de trabalho do qual somos ate hoje herdeiros. E no seculo 20 com a escola dos Annales e seus continuadores que a histöria francesa rompe as fronteiras europeias, e gragas a Fernand Braudel e seus alunos ela encontra um vasto püblico. Ela encontra tambem um momento de fertilidade com outras ciencias sociais, como a sociologia e a antropologia.


Embora a escola histörica francesa no inicio deste seculo 21 esteja mais inclinada a uma atitude de suspeigäo, a histöria continua sendo uma paixäo francesa, declinada em generos di-versos: da histöria universitäria ao romance...e o trabalho histörico € visto pelo que ele &: um modelo.de rigor que se baseia sobre o respeito a regras precisas, a recusa do anacronismo, a curiosidade e a abertura intelectual. O campo do historiador € muito amplo: das ciencias äs representagöes coletivas, da histöria politica a histöria social...


E com prazer que deixarei a ültima palavra deste prefäcio a Michel Pastoureau, historiador franc&s que constituiu uma obra muito original ao interrogar-se sobre a histöria da cor. Eu aprecio particularmente sua definigäo de histöria: “O historiador tem o direito de se comprazer? Fazer tal pergunta parece atualmente um pouco insölito, pois parece evidente que o prazer do historiador € uma das forgas motrizes de sua pes- quisa, e que uma relacäo de simpatia, ou mesmo de avidez ou de jübilo com o objeto de suas pesquisas, näo pode senäo ajudä-lo a melhor compreender os homens e as sociedades sobre os quais ele se debruca”.














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